A.E. tem 72 anos, é aposentado e foi bancário por muitos anos. Mas o que mais o define hoje é o quanto ele continua ativo — e necessário. Mesmo com dor no joelho, insegurança ao andar e limitações físicas, ele segue dizendo “sim” para todos ao seu redor.
Em nossa primeira conversa, contou que no ano passado enfrentou um dos maiores desafios de sua vida: foi diagnosticado com uma neoplasia cerebral. Passou por cirurgia, venceu o medo, encarou o tratamento com coragem e teve um bom desfecho. A saúde que hoje o preocupa é a mesma que, pouco tempo atrás, ele quase perdeu.
Hoje, mesmo recuperado, A.E. carrega consigo uma sensação de urgência. Sabe que a vida é frágil, e quer estar presente. Quer ser útil. Por isso, veio até mim com uma lista de tarefas:
• Ajudar o filho no processo de mudança para outro país
• Organizar documentos para a retirada de cidadania
• Declarar imposto de renda
• Acompanhar a venda da residência de amigos
• E, claro, continuar sendo o apoio de quem precisa
Depois de ouvir tudo isso, olhei pra ele e disse com firmeza e carinho:
“Ok, o senhor tem muitas atividades para cumprir… mas primeiro o senhor precisa cuidar de si. Só assim terá saúde para continuar ajudando os outros.”
Ele entendeu. E topou começar.
Veio com receio: “Como vou fazer fisioterapia com dor?”
Expliquei que a fisioterapia não espera a dor passar — ela é parte da solução.
Ele trouxe exames de sangue, densitometria, ressonância magnética e radiografia, e avaliei tudo com cautela para garantir um tratamento seguro e eficiente.
Durante a avaliação, observamos:
• Fraqueza muscular nos membros inferiores, especialmente glúteos e abdutores de quadril, dorsiflexores
• Encurtamento de isquiotibiais, piriforme e quadríceps e panturrilha
• Redução da amplitude de movimento nos quadris e joelhos
• Alterações posturais importantes como anteriorização cervical, cifose torácica, hiperlordose lombar, prostração dos ombros, retroversão pélvica.
Nos testes funcionais:
• Time Up and Go: tempo elevado, demonstrando lentidão e insegurança para levantar e caminhar
• Sentar e Levantar (30 segundos): número abaixo do esperado para a idade, indicando perda de força funcional
Ainda assim, A.E. tem um corpo que quer se recuperar — e uma mente disposta a recomeçar.
Montamos um plano com 20 sessões, com foco em:
• Fortalecimento do core e dos estabilizadores do quadril e joelho
• Alongamentos específicos
• Reeducação postural
• Treino de equilíbrio e propriocepção
Ao final, a meta é evoluir para Pilates, funcional ou academia. Porque ele não quer parar — só precisava lembrar que ele também merece prioridade.
Cuidar de si não é egoísmo. É o primeiro passo para continuar cuidando de todos.
Larissa Corrêa dos Santos
Fisioterapeuta – CREFITO 261391-F