
Na terça-feira passada, Márcio bateu sua meta de 10 km, tomou um banho, fez um lanche e ficou trabalhando sentado por cerca de 4 horas. Ao se levantar da estação de trabalho, sentiu uma dor insuportável no joelho, mal conseguindo subir para o quarto. Naquela noite, não conseguiu dormir. A dor na parte anterior e medial do joelho era tanta que ele resolveu dormir em outro quarto, para não incomodar o sono de Patrícia.
Pela manhã, percebeu que o joelho estava quente, com dor, ardência e grande dificuldade para flexionar ou estendê-lo. Lembrou-se então do médico que havia conhecido no centro de treinamento do seu time do coração.
Na consulta, contou toda a história. O médico realizou testes clínicos e solicitou uma ressonância magnética para diagnóstico diferencial, já que Márcio estava acima do peso, era sedentário e, há pouco mais de um mês, havia começado a correr todos os dias, empolgado com um aplicativo de corrida.
Com base nos testes, havia suspeita de fratura por estresse ou comprometimento de estruturas como ligamentos e tendões. O diagnóstico final foi Síndrome Femoropatelar.
O Que é a Síndrome Femoropatelar?
A síndrome femoropatelar é causada por um mau alinhamento da patela durante a contração do quadríceps, aumentando as forças compressivas entre as superfícies articulares da patela e do fêmur. Fatores como fraqueza e desequilíbrio muscular do quadríceps, fraqueza dos músculos do quadril, rigidez excessiva dos tecidos moles e má biomecânica do pé contribuem para esse quadro.

Sintomas:
- Dor na parte frontal do joelho e abaixo da patela;
- Dor aumentada ao subir e descer escadas, principalmente ao descer;
- Dificuldade para agachar e levantar;
- Estalos na patela durante a flexão e extensão;
- Dor ao ficar sentado por longos períodos;
- Dor ao correr;
- Edema na face frontal e inferior da patela.
O tratamento inicial incluiu o uso de anti-inflamatórios, suspensão temporária das atividades que causavam dor e aplicação de gelo por 10–15 minutos a cada 3 horas.
A Articulação Femoropatelar
A articulação femoropatelar é a engrenagem entre a tróclea do fêmur (sulco onde a patela se apoia) e a própria patela.
Estabilizadores:
- Estáticos: Retináculos medial e lateral e o formato da tróclea.
- Dinâmicos: Músculos como os isquiotibiais, bíceps femoral, quadríceps (reto femoral, vasto intermédio, vasto lateral e vasto medial). O vasto medial oblíquo (VMO) é o principal responsável pela tração dinâmica da patela.
Contribuições Posturais e Biomecânicas
Alterações como anteversão pélvica, joelho valgo, torção tibial externa e pronação subtalar excessiva aumentam a pressão de contato entre a patela e a tróclea, contribuindo para a dor femoropatelar. Outros fatores incluem disfunções musculares, alterações ósseas, traumas e sobrecarga articular.
Tratamento Fisioterapêutico
Márcio chegou à fisioterapia com dor intensa e já realizando crioterapia. Reforçamos a orientação: uso de bolsa de gelo flexível sobre a área dolorida, com pano protetor e o joelho posicionado para reduzir a atividade do quadríceps.
Primeiras sessões:
- Modulação da dor;
- Prevenção e redução de aderências;
- Mobilização passiva da patela, retináculos, banda ílio-tibial e isquiotibiais;
- Eletroanalgesia com TENS ou FES.
Sessões seguintes:
- Bicicleta ergométrica para resistência muscular;
- Fortalecimento do quadríceps (ênfase no VMO e vasto lateral) em cadeia cinética fechada e, posteriormente, aberta;
- Fortalecimento dos abdutores e rotadores externos do quadril;
- Exercícios de equilíbrio e coordenação da marcha;
- Reeducação postural dos membros inferiores;
- Orientações sobre gestos laborais e esportivos.
Conclusão
E o Márcio? Vai conseguir correr a Corrida do SESI?
Hoje, após 12 sessões, Márcio está treinando com cautela. Utiliza tornozeleira, reduziu o tempo sentado e intensificou os exercícios fisioterapêuticos em casa. Provavelmente, estará preparado para participar da corrida do SESI com segurança!
Rita de Cássia Munhoz Miranda – Fisioterapeuta – CREFITO 13.495-F
Referências Bibliográficas:
- Cabral, Cristina Maria Nunes, et al. “Eficácia de duas técnicas de alongamento muscular no tratamento da síndrome femoropatelar: um estudo comparativo.” Fisioterapia e Pesquisa 14.2 (2007): 48–56.
- Roque, Vanessa, et al. “Síndrome femoro-patelar – Patellofemoral Syndrome.” Rev. da Soc. Port. Med. Física e Reabil. 22.3 (2012): 53–61.